Como esperado, a UE e o Reino Unido chegaram a um acordo de última hora sobre o BREXIT, apenas sete dias antes do dia da saída da UE. O compromisso é mais vantajoso do que outros FTAs (Tratado de livre-comércio), pois oferece tarifa zero para mercadorias. No entanto, as barreiras não tarifárias podem chegar a +10% devido à saída da União Aduaneira. O acordo ainda vai passar por alguns ajustes até a metade do ano, mas já prevemos 5 grandes impactos para os ingleses e que serão atenuados pela crise da Covid-19.

Primeiro: demanda interna baixa e volátil por causa das restrições sanitárias renovadas. No curto prazo, o “hard lockdown”, agravará a contração do consumo privado e do investimento. Isso deve manter a disrupção do comércio baixa, pelo menos até o segundo tri de 2021, dando tempo para o governo buscar investimentos em infraestrutura, com o objetivo de reduzir o tempo gasto no monitoramento da fronteira. No entanto, para os exportadores britânicos, um BREXIT em tempos de Covid-19 pode ser ainda mais difícil. Prevemos que os exportadores do Reino Unido perderão entre 13,5 a 27,3 bi de euros ao longo do ano (contra 10 bi de euros dos exportadores da UE) devido à fraca demanda, maior burocracia e pouca competitividade da libra esterlina (-3% em 2021). Isso se traduziria em 0,6% a 1,1% de perda anual no PIB. Os cinco setores mais afetados seriam metais, maquinário, equipamentos de transporte, químico e têxtil.Segundo: a "regra de origem" provavelmente exigirá mudanças na cadeia de suprimentos dado alta dependência dos insumos estrangeiros.

A boa notícia é que a crise já levou muitas empresas a repensar suas cadeias e procurar por fornecedores em território nacional. Em nossa recente pesquisa sobre “supply chain”, a proporção de empresas do Reino Unido que procuram fornecedores domésticos é maior em comparação com seus pares (35% contra 17% na Itália). Quando questionados sobre os motivos para considerar a mudança de localização dos fornecedores, 35% das empresas do Reino Unido mencionaram reduzir atrasos nas entregas e gerenciar melhor os estoques, contra 21% em média em outros países.

Terceiro: os preços de importação podem subir de + 2% para + 5% devido à burocracia adicional e maior tempo de transporte.

Quarto: escassez de mão-de-obra. A entrada de mão-de-obra já foi impactada pelas restrições sanitárias em 2020 e o Brexit vai acentuar esse problema, principalmente, no grupo de trabalhadores da União Europeia, dada a necessidade de autorização de trabalho. O número total de trabalhadores da UE que vão para o Reino Unido caiu -15% desde o referendo de 2016. A escassez de mão de obra futura colocará pressões sobre os salários e dificultará a substituição dos fornecedores atuais por fornecedores locais.

Figura 01: Total de cidadãos da UE e de outros países que trabalham no Reino Unido, % da população ativa

Fonte: ONS, Allianz Research

Quinto: margem para manobras políticas visando absorver o impacto negativo do Brexit. Esperamos gastos adicionais de cerca de GBP100bn (ou 5% do PIB) em infraestrutura e a contenção do IVA, para limitar a perda do poder de compra e o aumento da inflação. No entanto, o lockdown vigente até metade de fevereiro deve manter o Reino Unido em recessão no primeiro tri (-5,5% t / t), já que o fechamento das escolas por seis semanas reduzirá o crescimento do PIB em mais de -3pp e o fechamento do comércio não essencial em -2,6pp. Assim, mantemos nossa previsão em +2,5% para o crescimento do PIB em neste ano, seguido por mais de + 7,0% em 2022

Figura 02: Perspectiva do Reino Unido

Fontes: various, Allianz Research